Angela Davis. Crédito: Nara Gentil/CORREIO
A ativista negra norte-americana Angela Davis, 79 anos, está de volta à Bahia. A escritora e professora emérita da Universidade da Califórnia chegou a Salvador para lançar seu mais recente livro, 'Abolicionismo. Feminismo. Já (Companhia das Letras), e participar de uma mesa de debates no XVIII Congresso Internacional da Abralic (Associação Brasileira de Literatura Comparada), que acontece na Ufba, em Salvador, entre 10 e 14 de julho.
Davis e Dent vão conversar com a professora da Ufba Denise Carrascosa, que assina o prefácio de Abolicionismo. Feminismo. Já. O encontro tem mediação de Feibriss Cassilhas e será transmitido pela TV Ufba.
O livro lança um apelo por um feminismo interseccional, internacionalista e abolicionista. Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial e fundadora do Instituto Marielle Franco, falou sobre a importância do livro: "Unindo feminismo e abolicionismo, as autoras estabelecem uma nova categoria política contra o Estado penal e policial. (...) Este livro é um suspiro para que avancemos cada vez mais no sentido da liberdade de todas as prisões físicas, sociais e estruturais a nós impostas”.
Prévia
Neste domingo pela manhã, Angela e Gina receberam a imprensa para falar sobre o tema do livro em uma prévia do que será a mesa de debates nesta terça-feira. Um dos pontos destacados por Gina são os resultados insatisfatórios obtidos com a política de estímulo ao encarceramento:
Gina Dent
"O problema é que toda vez que algum tipo de situação nos afeta, queremos mensurar o sucesso da punição através do número de anos de encarceramento", criticou."
Gina acrescentou que o feminismo abolicionista deve restabelecer uma cultura que utilize valores próprios de sua tradição, para criar alternativas à política de encarceramento: "O livro inclui várias formas alternativas de justiça transformadora, que podemos chamar de justiça restauradora. Assim, podemos alcançar justiça sem investir num sistema que causou tanta dor. A solução não pode ser algo que cause mais danos à pessoa que causou danos".
Angela também criticou a política de encarceramento: "O feminismo abolicionista está sempre olhando para uma época em que a justiça não precise ser vingativa, em que a justiça promova harmonia e saúde. Mas estamos conviendo com a justiça vingativa em todos os sistemas do mundo".
Universidades
Embora atue como pesquisadora e professora no universo acadêmico, Angela destacou a importância das organizações de base - não formais - na construção da sociedade. "Nós não acreditamos que a educação só ocorra em espaços formais, como a universidade. Não pensamos que seja menor o trabalho desenvolvido fora do espaço formal. Lá também há capacidade de se pensar de forma complexa. Muito do que apresentamos no livro vem de ideias produzidas em organizações de base. Frequentemente, a universidade é a última a incorporar essas ideias".
Angela destacou ainda que o feminismo negro no Brasil tem muito a ensinar ao feminismo americano e citou a intelectual Lélia Gonzalez, nascida em MG: "A encontrei em 1985 e fiquei impactada com a apresentação dela". "Precisamos enfatizar que nós, que moramos no hemisfério norte precisamos aprender sobre os movimentos construídos no sul. E não é necessário nos preocuparmos com o gênero da pessoa engajada no movimento. Claro que é necessário enfatizar as habilidades de lideranças das mulheres negras, mas nós percebemos feminismo negro como metodologia que pode ser abraçada por qualquer pessoa, independentemente de gênero ou raça".
SERVIÇO
Abolicionismo. Feminismo. Já. Angela Y. Davis, Gina Dent, Erica R. Meiners, Beth E. Richie
Tradução: Raquel de Souza
Número de páginas: 288
Preço: R$ 59,90 | E-book: R$: 34,90
Fonte:Correio da Bahia - 10/07/2023
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