sexta-feira, 7 de junho de 2024

Caso Marielle: Em manuscrito, Lessa revela fala de irmãos Brazão: “Rivaldo é nosso”

O chefe de Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa Caso Marielle

foto:reprodução

Em manuscrito com letras de forma, o ex-policial militar do Rio de Janeiro Ronnie Lessa disse à Polícia Federal que o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa era reverenciado pelos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão como um “guru” no planejamento do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes em março de 2018. Os irmãos diziam, ainda, segundo Lessa, que Rivaldo era forte aliado. “O Rivaldo é nosso”, afirmaram em reunião para combinar a execução.

As falas são narradas por Lessa em texto escrito antes de fechar a delação premiada com a Polícia Federal. Ronnie Lessa informou ter renunciado a seu direito ao silêncio e decidiu fechar a colaboração premiada. Ele fez entrevista privada com seus advogados, e a proposta de colaboração premiada foi levada à Polícia Federal em material manuscrito, com anotações de Lessa.

No documento, o ex-PM escreveu a próprio punho que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão chamavam Barbosa de “guru”. O ex-delegado era citado ainda como uma “garantia para o bom desfecho da missão e como autêntica ‘carta branca’ para o plano”.

Lessa, Rivaldo e os Brazão estão todos presos.

Segundo relatou Lessa, no momento da “pré-delação”, os irmãos incluíam Rivaldo Barbosa “claramente como parte integrante do plano”. Lessa narra situação em que Macalé, interlocutor dos mandantes do crime, faz o seguinte comentário:

 Pô, padrinho. Se eu soubesse que o sr. tinha esse contato, eu não tinha nem sido preso. Foi a equipe do Rivaldo que me prendeu…
– Pô, negão. Tu não se comunica, cara. O Rivaldo é nosso. Ele segura tudo lá, “sem aval dele ninguém faz nada”.

Veja:

texto manuscrito por Ronnie Lessa em delação no caso Marielletexto manuscrito por Ronnie Lessa em delação no caso Marielle

Em uma segunda reunião para prosseguir a operação e mudar o local da execução para fora da Câmara dos Vereadores, mais uma vez Rivaldo surge como ponto-chave, conforme Lessa relatou à PF. “Logo após sugerirmos a ideia, ouvimos de Domingos: ‘É exigência do Rivaldo. Temos que cumprir do jeito que ele determinou'”.

texto manuscrito da delação de Ronnie Lessa no caso Marielletexto manuscrito da delação de Ronnie Lessa no caso Marielle

Ainda nos termos escritos à mão, Lessa diz que Rivaldo “empurrou com a barriga” até o fim a intervenção federal no caso Marielle. “Não concluiu o caso propositalmente e nomeou Giniton (Lages), que era de sua confiança.”

Inocente

No âmbito das investigações, o delegado Rivaldo Barbosa, acusado de ser um dos mentores intelectuais do assassinato de Marielle Franco, foi ouvido na segunda-feira (3/6), na Penitenciária Federal de Brasília. Na ocasião, alegou inocência e voltou a repetir que nunca esteve com Domingos e Chiquinho até o momento de sua prisão, quando foram juntos no avião para sistema prisional na capital da República.

As informações nos manuscritos vieram à tona nesta sexta-feira (7/6), após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubar sigilo da delação premiada de Ronnie Lessa, apontado como o atirador responsável pelas mortes da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes em março de 2018.

Fonte: Metrópoles - 07/06/2024 

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