segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Ensino Superior: Justiça confirma plágio em tese da ex-reitora da UFERSA nomeada por Bolsonaro

                                            foto:reprodução/arquivo    


 A tese apresenta falsa aparência de autoria e originalidade”. A frase está no laudo pericial da Justiça Federal que confirma o plágio cometido por Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira, ex-reitora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa). O documento, assinado por duas peritas judiciais, conclui que houve apropriação sistemática de trechos de outros trabalhos acadêmicos, o que compromete a validade do título de doutorado defendido em 2011.

O caso, revelado pela Agência Saiba Mais em setembro de 2020, expõe não apenas uma violação à integridade acadêmica, mas também lança luz sobre o contexto político em que Ludimilla chegou à reitoria. Ela foi nomeada pelo então presidente Jair Bolsonaro em agosto de 2020, apesar de ter ficado em terceiro lugar na consulta à comunidade acadêmica.

No pleito realizado em junho daquele ano, Rodrigo Codes venceu com 37,55% dos votos, seguido por Jean Berg (24,84%) e Ludimilla (18,33%). A lista tríplice foi enviada ao MEC, e Bolsonaro escolheu a candidata menos votada, repetindo uma estratégia que marcou sua gestão: a intervenção nas instituições federais de ensino. No mesmo período, o IFRN teve como reitor nomeado um nome que sequer participou das eleições internas.

Plágio confirmado por perícia judicial

O laudo, produzido no âmbito do processo nº 0806324-11.2023.4.05.8400, movido pelo Ministério Público Federal, analisou a tese “De repente, tudo mudou de lugar: refletindo sobre a metamorfose urbana e gentrificação em Mossoró-RN”, defendida por Ludimilla no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN.

De acordo com o documento, foram identificados múltiplos trechos que correspondem literal ou estruturalmente a conteúdos de outras obras acadêmicas sem atribuição autoral adequada. O principal texto copiado é a dissertação de mestrado de Karisa Lorena Carmo Barbosa Pinheiro (UFRN, 2006), mas também foram encontrados trechos plagiados de outras dissertações e livros.

Entre as estratégias de apropriação textual, as peritas apontam cópias literais sem aspas, paráfrases com manutenção da estrutura sintática e colagens de parágrafos reorganizados.

A prática de plágio constatada na tese não é pontual, mas sistemática e recorrente, atingindo partes significativas da fundamentação teórica, introdução e discussão, o que compromete a autenticidade intelectual da obra”, afirma o laudo.

Reconhecemos, com elevado grau de certeza técnica, a ocorrência de infração à legislação de direitos autorais e às normas da escrita científica, configurando plágio acadêmico deliberado”, conclui.

O laudo judicial que confirma o plágio na tese de doutorado de Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira não apenas aponta a apropriação sistemática de trabalhos alheios, mas evidencia uma violação grave à integridade acadêmica. A análise detalhada, baseada em software especializado e conferência manual das fontes, mostra que cerca de 60% do conteúdo da tese reproduz textos de outros autores sem referência adequada. De acordo com o relatório, “há 21 documentos dos quais foram transcritos
trechos curtos, longos ou mesmo parágrafos inteiros“.


Saiba Mais revelou o caso em 2020

Em setembro de 2020, a Agência Saiba Mais publicou a primeira reportagem sobre os indícios de plágio na tese de Ludimilla. A apuração apontou cópias parciais ou integrais em pelo menos 16 páginas das 195 que compõem o trabalho, incluindo trechos técnicos e análises teóricas reproduzidas sem aspas ou referência correta.

A denúncia ganhou repercussão nacional, especialmente porque ocorreu no momento em que Bolsonaro nomeava reitores sem respeitar a escolha das comunidades acadêmicas. Ludimilla assumiu a Ufersa na mesma visita presidencial a Mossoró em que Bolsonaro reforçou sua política de confrontar universidades, questionando sua autonomia e prometendo intervir nas nomeações.

Linha do tempo do caso

Setembro de 2020 – A Agência Saiba Mais publica reportagem revelando indícios de plágio na tese de doutorado de Ludimilla.

Junho de 2023 – A UFRN decide anular o título de doutorado de Ludimilla após conclusão de processo administrativo disciplinar, que apontou que 44% das palavras do trabalho não foram redigidas pela autora.

                        – A Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN) negou um pedido de liminar da reitora, que tentava derrubar a anulação do título de doutorado por plágio em tese apresentada na UFRN.

Julho de 2023 – O Ministério Público Federal (MPF) solicitou o afastamento de Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira do cargo de reitora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) por abuso de poder e intimidação.

                        – O juiz federal Fabrício Ponte de Araújo negou o pedido do Ministério Público Federal (MPF) de tutela cautelar de caráter antecedente de afastamento de Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira do cargo de reitora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) por abuso de poder e intimidação.

Agosto de 2023 – O desembargador Edvaldo Batista da Silva Júnior, do TRF5, em Recife, suspende a decisão da UFRN que cassava o título da ex-reitora e todos os atos administrativos decorrentes dela, até que o processo transite em julgado. A defesa de Ludimilla alegou prescrição administrativa e o direito à manutenção do título após cinco anos, mas em decisão anterior, na 1ª Vara da Justiça Federal no RN, o juiz havia negado pedido similar por entender que não cabia ao Judiciário anular decisões internas das universidades.

Agosto de 2025 – Laudo pericial da Justiça Federal confirma que a tese de doutorado contém plágio sistemático, reforçando a perda de autenticidade do título.

Fonte: Saibamais.jor.br - 01/09/2025

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