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São Paulo — Nesta segunda-feira (25), alunos da disciplina “Direito Administrativo Interdisciplinar” da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) receberam do professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi um documento para orientar a sua primeira aula do ano.
Com 12 páginas transcritas em máquina de escrever e impressas no papel timbrado da universidade, o professor defende a ditadura militar, define partidos de esquerda como “energúmenos” e diz que a população pobre é “uma eterna minoria de submundo que se recusa a trabalhar”.
O magistrado também afirma que casais LGBT são “aberração”, além de louvar a “raiz europeia da nação brasileira” e criticar a miscigenação de raças.
Em um dos trechos, Gualazzi resume seu pensamento: “liberalismo econômico e conservadorismo social – eis a síntese de meu pensamento, de meu sentimento e de minha agenda”.
Logo em seguida, diz que nas eleições de 2018 votou em Jair Bolsonaro para presidente, Major Olímpio para senador e Luiz Philipe de Orléans e Bragança para deputado federal.
Para encerrar o plano de aula, o professor destaca trechos da posse do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do discurso do presidente Jair Bolsonaro.
Assim que o material foi distribuído, os alunos da disciplina protestaram em relação ao conteúdo. O Centro Acadêmico XI de Agosto, que representa os alunos de direito da universidade, emitiu uma nota de repúdio ao professor.
“O uso de trechos do discurso de Jair Bolsonaro para reiterar seus posicionamentos homofóbicos e racistas é mais uma reafirmação de que a eleição de Bolsonaro à Presidência da República representou a legitimação de posicionamentos que atacam as minorias sociais do Brasil, reafirmando seu discurso antidemocrático e anti-povo”, diz trecho da nota.
Essa não é a primeira vez que Gualazzi desenvolve materiais de aula como esse. Em 2014, ele ministrou a aula “Continência a 1964”, na qual fez um discurso pró-ditadura militar.
“Mais uma vez, afirmo, reafirmo, e reitero o inteiro teor de minha aula Continência a 1964, de 31 de março de 2014”, diz o texto distribuído na segunda (25).
Laura Arantes, presidente do centro acadêmico e também estudante de direito, informou que os alunos entraram em contato com a faculdade pedindo esclarecimentos do posicionamento do professor.
“O material distribuído foi escrito em página timbrada da Faculdade de Direito da USP, o que pode parecer aos que lerem que é um documento oficial da faculdade, o que não é verdade. Vamos exigir uma retratação pública do professor. Também estamos em contato com advogados para saber quais são as medidas cabíveis”, relatou à reportagem.
Segundo a estudante, a maior parte dos alunos presentes na aula pediram para preservar a identidade, mas que a ação está sendo feita em conjunto.
“Não sabemos o motivo do professor ter divulgado esse conteúdo agora, o que sabemos é que esse tipo de posicionamento é reiterado por ele em sua vida pessoal. Até então, não tínhamos provas de que ele, apesar de ser defensor público dessas ideias, usaria a sala de aula para divulgar seu discurso de ódio”, reiterou.
O conteúdo na íntegra abaixo:
fonte:Exame/MSN/Estadão 27/02/19
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