terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Bolsonaro não vai enviar representante a posse do presidente eleito de Honduras após convite a Lula

 

                                    foto:reprodução


BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo de Jair Bolsonaro (PL) decidiu não enviar nenhum representante para a posse da esquerdista Xiomara Castro em Honduras, no final deste mês. Ela foi eleita presidente do país da América Central em novembro.

De acordo com interlocutores do Itamaraty, a mensagem formal convidando Bolsonaro para a posse de Xiomara --mulher do ex-presidente Manuel Zelaya-- foi entregue na semana passada. Os dois líderes hondurenhos têm ligações históricas com o PT.

Também por esse motivo, desde o primeiro momento se descartou a participação do próprio presidente brasileiro no evento, mas havia uma discussão sobre a possibilidade de envio de alguma representação de nível ministerial ou do vice Hamilton Mourão (PRTB).

Em uma demonstração de distanciamento, o governo resolveu não enviar nenhuma autoridade de Brasília para Tegucigalpa. Nos bastidores, essa é tratada como uma decisão política que dificilmente será revertida até 27 de janeiro, data das celebrações na capital hondurenha.

Caso ela se confirme, o país deve ter uma representação protocolar, limitada à presença do embaixador brasileiro em Honduras, Breno da Costa.

De acordo com a agência de notícias EFE, além da mensagem formal a Bolsonaro, a presidente eleita de Honduras despachou convites para Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. Interlocutores dos dois ex-presidentes disseram que não está prevista a ida deles a Tegucigalpa.

No governo Lula, depois de ser deposto por um golpe de Estado no final de 2009, Zelaya passou quatro meses refugiado na embaixada do Brasil. Após um período no exílio na Nicarágua, o hondurenho retornou ao país em 2011, quando fundou o Libertad y Refundación, partido pelo qual sua mulher concorreu à Presidência.

O casal tem ainda vínculos com o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, de quem toma inspiração para projetos contra a desigualdade --o chavismo apoiou Zelaya quando ele foi deposto e fez campanha para a restituição de seu poder.

Xiomara foi eleita em novembro com 51,1% dos votos, 14 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o direitista Nasry Asfura, apoiado pelo atual presidente, Juan Orlando Hernández. JOH termina seu segundo mandato envolvido em denúncias de tráfico de drogas nos Estados Unidos --ele nega qualquer irregularidade-- e com especulações de que pode vir a se refugiar na Nicarágua.

Ao não enviar representantes de Brasília para Honduras, Bolsonaro deve repetir o que fez na posse recente de outro líder da esquerda latino-americana. Em novembro de 2020, na cerimônia de início de mandato de Luis Arce na Bolívia, o Brasil esteve representado apenas pelo embaixador em La Paz, Octávio Côrtes.

Houve atritos também com o principal parceiro comercial do Brasil no continente. Em dezembro de 2019, após ameaçar não despachar emissário ou se fazer representar pelo então ministro da Cidadania, Osmar Terra, o presidente escalou Mourão para comparecer à posse de Alberto Fernández na Argentina.

Tanto no caso boliviano como no argentino o Itamaraty era comandado por Ernesto Araújo, um dos principais expoentes da ala ideológica do governo.

Seu substituto, Carlos França, atuou para que o Brasil enviasse representantes para a posse no Peru de Pedro Castillo, também de esquerda. Na ocasião, ele acompanhou Mourão na delegação.

Nesta semana, em outra cerimônia na América Central, o ditador Daniel Ortega iniciou seu quarto mandato consecutivo na Nicarágua, depois de vencer eleições de fachada em novembro. O Brasil também não teve representante formal.

Fonte: Folha S. Paulo - 11/01/2022

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