terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Inflação explode por decisões erradas do governo Bolsonaro, diz economista Márcio Pochmann

Paulo Guedes, Jair Bolsonaro e Roberto Campos Neto (Marcos Corrêa/PR)


 A inflação de 10,06% em 2021, que estourou em quase duas vezes o teto de 5,25% da meta, foi ocasionado por uma série de decisões erradas do governo Jair Bolsonaro (PL), que resgatou a chamada “inflação inercial”, termo cunhado nos anos 70 por especialistas para explicar a alta de preços durante o governo de Ernesto Geisel, na Ditadura, quando a inflação saltou de 15,54% para 40,81% nos cinco anos de seu mandato.

Em entrevista à Fórum, o economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Márcio Pochmann afirma que a indexação de preços é um dos três fatores que causaram o estou da meta.

A economia brasileira rapidamente foi se indexando ao velho problema que o Brasil tinha, criado a partir da Ditadura de 1964, quando houve a indexação de preços, que fez com que por um longo tempo o Brasil tivesse altíssimas taxas de inflação”, afirma o economista, lembrando a política da Ditadura que permitia o aumento de preços com base em uma memória inflacionária.

“Ademais dessa importante consideração a respeito da presença da indexação que se criou basicamente em 2021, se percebe que as causas principais dessa elevação do nível de preços do Brasil são fundamentalmente concentradas nas decisões governamentais. Os três principais preços que contribuíram na difusão da elevação estão relacionados ao combustível, que é estabelecido pela Petrobras, o preço da energia elétrica, que também é de responsabilidade do governo através da Eletrobras, e por fim a variação da taxa de câmbio, ou seja, o preço da moeda brasileira em relação às moedas estrangeiras, em especial ao dólar”, diz Pochmann, explicando o segundo fator que, segundo ele, provocou a alta dos preços.

terceiro fator é a explosão da taxa Selic com sucessivos reajustes a partir do segundo semestre de 2022, o que impactou diretamente no endividamento das empresas e das famílias, já afetadas pela pandemia.

As ações do próprio Banco Central, dito independente, passou a desempenhar em termos de uma rápida elevação na taxa de juros. O aumento constante na taxa de juros derrubou a partir do segundo semestre de 2021 as pretensões de uma recuperação da economia brasileira. O Brasil vinha de taxas de juros reais negativas, com juros abaixo da inflação, mas a partir do segundo semestre a taxa de juros sobe muito rapidamente e isso praticamente desestimula as pretensões de ampliação da capacidade de investimento e, ao mesmo tempo, influencia o endividamento das famílias, considerando que nós temos quatro famílias a cada cinco endividadas”, afirmou.

Para Pochmann, a sinalização de que a taxa de juros vai continuar a subir – a estimativa no último relatório Focus, do Banco Central, é que chegue a 11,75% até o final do ano – traça um cenário ainda pior para 2022.

“As ações do BC acabaram desestimulando a capacidade de recuperação da economia em 2021 e esse sinal de continuidade na taxa de juros fará com que em 2022 o país não tenha crescimento econômico, possivelmente convivendo com uma inflação superior ao desempenho econômico projetado“, afirmou.

Fonte: Revista Fórum - 11/01/2022

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