BRASÍLIA - O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, passou por instantes de desconforto durante o desfile cívico-militar em celebração ao Bicentenário da Independência do Brasil. A transmissão oficial do governo brasileiro e fotógrafos captaram Rebelo de Sousa visivelmente contrariado, com semblante fechado, na tribuna de honra onde autoridades nacionais e estrangeiras assistiram às comemorações do 7 de Setembro.
O estranhamento na comitiva portuguesa, segundo fontes diplomáticas, foi provocado pelo empresário bolsonarista Luciano Hang, que saiu de seu lugar ao fundo da tribuna e se colocou na primeira fila, área reservada aos chefes de Estado. A troca ocorreu logo após o início da parada militar. Até então, Rebelo de Sousa estava com a expressão simpática de costume. Ele interagiu brevemente com Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão ao longo do desfile.
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Originalmente, seu lugar era entre os dois. Ao lado deles, somente as respectivas mulheres e representantes e chefes de Estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), como Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. A quebra de protocolo gerou incômodo com o cerimonial da Presidência da República.
Vestido com terno e gravata chamativos, nas cores do Brasil, o empresário se exibiu e acenou ao público, de forma ostensiva, atraindo holofotes e manifestações de viés político. Bolsonaro convidou Hang à tribuna por ter sido um dos oito empresários alvos de busca e apreensão da Polícia Federal, por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O grupo discutia um golpe de Estado num aplicativo de mensagens. Abertamente governista, Hang é investigado por suspeita de envolvimento e financiamento de atos antidemocráticos, o que ele nega.
Além de dividir o espaço com o “intruso”, o Rebelo de Sousa acabou involuntariamente protagonizando outras manifestações de viés político, que contaminaram a cerimônia, por tradição revestida apenas da institucionalidade. Perto do fim do desfile, os deputados governistas Coronel Chrisóstomo (PL-RO) e Eros Biondini (PL-MG) levaram à tribuna e estenderam com o presidente uma bandeira nacional alterada, com a foto de um feto estampada e as frases “Brasil sem aborto” e “Brasil em drogas”. Os dois temas de interesse de políticos conservadores brasileiros são parte da agenda moral de Bolsonaro na campanha pela reeleição. Rebelo saiu na foto.
Fonte: ESTADÃO - 08/09/2022
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