sábado, 22 de julho de 2023

Empresas receberam dinheiro em espécie para transportar radicais a atos golpistas

                                                                      Em 8 de janeiro, bolsonaristas invadiram e depredaram prédios dos Poderes                                                                      Imagem: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Empresas responsáveis pela contratação de ônibus que levaram radicais a Brasília no 8 de

Janeiro receberam pagamentos em "dinheiro vivo" e parte delas atuou em campanhas de

 aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. 

Os nomes das empresas constam em um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)

obtido pelo Estadão. O documento cita parte dos financiadores dos ataques às sedes dos três 

Poderes. Ao todo, 83 pessoas e 13 empresas estão envolvidas nas contratações.

A Bernardes & Bernardes Transportes, de Rondônia, recebeu, 

em 2022, pagamentos por serviços eleitorais para a campanha

do senador Marcos Rogério (PL-RO). Motorista 

e sócio da empresa, o microempresário

Jhoni dos Santos Bressan ganhou R$ 30 mil para levar grupos

de bolsonaristas a Brasília. "O cara (motoqueiro) chegava lá 

de viseira escura e mandava conferir o dinheiro", disse 

ele ao Estadão.

Bressan afirmou que não sabe informar quem foram os verdadeiros financiadores do transporte para o 8 de Janeiro. Ele disse ter sido 

procurado para o serviço por meio do WhatsApp, e que recebeu 

os pagamentos em dinheiro em espécie, entregue por motoqueiros

 em encontros em diferentes cidades de Rondônia.

Envelope

"Peguei o primeiro envelope com dinheiro em Vilhena (interior de Rondônia).

 Essa primeira viagem era para deixar acampados no Quartel-General do Exército

 em Brasília e vendemos por R$ 19 mil, mais diárias. A última (viagem) foi feita

 por R$ 30 mil",

 afirmou Bressan ao Estadão.

Procurado, o senador Marcos Rogério não informou como ocorreu a contratação

 da empresa durante a campanha.

Já a Odilon Araújo Júnior Transportes, batizada com o nome de seu fundador, de

Santa Catarina, prestou serviços para a campanha do atual governador do Estado, 

Jorginho Mello (PL-SC), ex-senador. Procurado, o governador de Santa Catarina 

disse, em nota, que a Odilon Araújo Júnior Transportes foi contratada e 

devidamente remunerada pelos serviços prestados e que os gastos contam

 na prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral. "O que a empresa 

pretensamente fez depois disso é de responsabilidade única e exclusivamente dela."

À reportagem, o empresário Odilon Araújo Júnior disse que foi procurado durante

 as eleições para prestar serviços para a campanha de Mello. "Transportei gente

do Jorginho de um lado para o outro, mas nem sei se o governador entrou 

no carro. Não tem nada a ver com as pessoas que me contrataram para o

 transporte a Brasília no dia 8 de janeiro", declarou Araújo Júnior.

O empresário disse que foi contratado por três pessoas, que não quiseram se 

identificar,para levar um grupo de Tubarão, no interior de Santa Catarina,

 até Brasília. Ele afirmouque transportou 36 pessoas. De acordo com ele, 

como seu único ônibus para longas 

viagens já estava em outro serviço, foi necessário subcontratar outro veículo

 por isso, ele aparece como contratante nos registros da Agência Nacional 

de Transportes  Terrestres (ANTT). Araújo Júnior disse que pago

u R$ 22 mil pela subcontratação  e que recebeu R$ 26,5 mil dos três 

verdadeiros contratantes, o que lhe deu lucro 

de R$ 4,5 mil na operação.


"Tive a sorte de o meu ônibus não estar lá, porque não sabia que iam fazer

essa baderna em Brasília. Quando a polícia me procurou há um mês 

(na investigação dos financiadores dos ataques) passei 

os comprovantes de Pix que me pagaram. 

Não vou dizer a você quem são os contratantes, são pessoas comuns", afirmou.

'Laranjas'

A Abin destaca nos relatórios "a grande pulverização dos contratantes de fretados". 

A agência ainda aponta a possibilidade de as pessoas envolvidas no fretamento 

dos ônibus terem sido "utilizadas como laranjas com o objetivo de ocultar os 

verdadeiros financiadores das caravanas e dos manifestantes".

O documento diz que as pessoas envolvidas na preparação do ato de 8 de janeiro

 se referiam a ele como "tomada pelo povo". O objetivo dos manifestantes 

desde o primeiro momento, segundo a Abin, era invadir o Congresso.

Uma das caravanas saídas de Tubarão levou até Brasília uma das radicais que 

se tornaram mais conhecidas: Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza,

 de 67 anos. A "Fátima de Tubarão" se notabilizou por afirmar em gravações

 durante a invasão ao prédio do Supremo Tribunal Federal que defecou na

 mesa do ministro Alexandre de Moraes.

Tanto Araújo Júnior quanto Jhoni dos Santos Bressan disseram ao Estadão 

que já prestaram esclarecimentos à Polícia Federal na investigação sobre

 os financiadores dos ataques golpistas em Brasília.

Na lista de contratantes de fretados produzida pela Abin também consta a Squad 

Viagens,uma empresa da família fundadora da Viação Águia Branca, do Espírito Santo. 

Procurada, a empresa informou que funciona como uma plataforma online de 

fretamento, por meio da qual qualquer pessoa pode fretar ônibus.

Fonte:Uol/ Informações são do jornal O Estado de S. Paulo em 22/07/2023


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