domingo, 2 de fevereiro de 2020

Salvador: 'Linda 1 e linda 2': modelos, gêmeas vítimas de racismo acumulam elogios

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Verena e Valentina têm apenas 3 anos. Mas, se alguém perguntar, elas enchem o peito para dizer que têm 'profissão': "Modelo!". A beleza das gêmeas soteropolitanas não encanta só os milhares internautas que se derretaram nas redes sociais do CORREIO na semana passada.
Em 2019, a duplinha participou de uma convenção de modelos e foi aprovada pelas cinco agências que trabalhavam com crianças. Mas, não foi fácil para a família manter a 'profissão' das meninas. Era preciso agenciar e tudo isso custa caro.
A mãe, Sandra, batalhou até conseguir que a inscrição de uma delas na convenção saísse de graça. O pai passou três dias trabalhando como segurança no evento para garantir a inscrição da outra. Depois de finalmente inscritas e aprovadas, a mãe propôs dividir os lucros meio a maio com uma agência caso aparecessem trabalhos.
"Sempre que pinta uma oportunidade, eu levo porque é uma coisa que elas amam fazer. Elas ficam super empolgadas, super animadas. Onde elas andam, elas falam que a profissão delas é modelo", conta Sandra, orgulhosa.
Hoje, elas são agenciadas pela Dior Kids e também desfilam pela Negrif. 
As reações sempre calorosas e carinhosas recebidas pelas meninas destoam completamente do episódio de racismo que tiveram que enfrentar no último dia 25 de janeiro, na estação Rodoviária do metrô. Um segurança gritou, assim que viu as meninas: "Misericórdia! Bucha 1 e bucha 2".
Sem entender, as duas começaram a perguntar o que era "bucha". Depois, uma delas disse para a irmã: "Ele estava falando do nosso cabelo". No dia seguinte, a reação foi inevitável.
(Foto: Marina Silva/CORREIO)
"Elas queriam lavar o cabelo, prender. Eu disse que não, não tem porque prender o cabelo. A Dra. Dandara Pinho (da OAB-BA, que acompanha o caso) me orientou que seria importante elas passarem por acompanhamento psicológico", contou a mãe.
E ela fez bem. O psicólogo Valter da Mata Filho, presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP3), explica que as pessoas próximas, os adultos, precisam mostrar que existem outras possibilidades de ser e estar no mundo, outras estéticas que não foram convencionalizadas como "certas".
(Foto: Marina Silva/CORREIO)
"As pessoas próximas tem um papel crucial na vida dessas crianças. Não podem legitimar as agressões que elas sofreram através da domesticação de corpos e mentes", afirma.
A autoestima é fundamental para a construção de uma identidade positiva, afirmada. No caso de Verena e Valentina, que valham as respostas dadas ao comentário racista e criminoso do segurança: "Linda 1 e linda 2!".
A CCR disse que “repudia atitudes racistas ou discriminatórias e está apurando o caso”. A concessionária foi procurada para que este ensaio fosse feito no metrô, mas não permitiu.
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

FONTE:CORREIO DA BAHIA/REPRODUÇÃO - 02/02/2020

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