quarta-feira, 17 de março de 2021

Salvador: Revendas de veículos seminovos e usados convivem com dificuldades

 






Depois de um 2020 de recuperação, o segmento de veículos seminovos e usados vive mais um momento de preocupação com as lojas fechadas. A pandemia acelerou e colocou muitos empresários na rota da digitalização, o que deu um certo ânimo, nos meses mais difíceis do ano passado.

Depois de agosto, o mercado voltou a ter alta procura, mas foi confrontado pela falta de produtos. Com vendas interrompidas de novos e locadoras precisando de carros, os lojistas de usados sofreram para atender à demanda de boa parte das pessoas que decidiram ter um carro, em vez de enfrentar o transporte coletivo na pandemia.

Ainda com problemas de estoques, as lojas tiveram que fechar as portas novamente em Salvador. Antes disso, voltavam a respirar uma retomada das vendas em fevereiro, com alta de 18% nas negociações de automóveis e comerciais leves, quando comparado a janeiro.

Cerca de 38% do mercado de usados da Bahia é representado por modelos jovens, de quatro a oito anos de uso. Os modelos entre nove e 12 anos (usados maduros) são 25% do mercado e os seminovos (até três anos) e velhinhos (acima de 13 anos), 18% cada – a partir dos dados das vendas no primeiro bimestre de 2021.

Ari Pinheiro, presidente da Assoveba, está preocupado com o fechamento das lojas e o aumento das restrições para conter a pandemia. Ele diz que está proibido ficar até dentro dos estabelecimentos. “Está sendo muito difícil para o setor. Semana passada fui fiscalizado quatro vezes”, conta.

Pressão pela reabertura

Diante da situação, o presidente da Assoveba distribuiu um comunicado endereçado ao prefeito Bruno Reis (DEM), solicitando a revisão do decreto que suspendeu o funcionamento das lojas de veículos, com o argumento de que esse tipo de comércio não produz aglomerações.

De acordo com Pinheiro Junior, essa cadeia em Salvador representa um universo em torno de 200 lojas e quatro mil funcionários. “Evitaríamos um colapso de grandes proporções e atenderíamos de maneira mais confortável as pessoas que têm necessidade de comprar um veículo, uma vez que muitos estão evitando o transporte coletivo, para reduzir as possibilidades de contaminação”.

Entre as sugestões da associação está o funcionamento das 9h às 16h, com aferição de temperatura, máscaras para todos os funcionários, álcool em gel para clientes e funcionários, além de higienização das máquinas de cartão após cada uso, distanciamento mínimo de dois metros, e só permitindo um cliente a cada 9 m². Funcionários transportados em veículos privados, atendimento delivery a clientes e três funcionários por loja também são indicados pelo dirigente da associação.

Seminovos valorizados

O seminovo continua em alta, mas o que fazer dele depende de quem vende. Tem grupos querendo fazer dinheiro rápido. É preciso fazer capital de giro e avaliar os custos operacionais, pelo menos no mínimo possível. O seminovo, assim, se torna uma forma de fazer o capital de giro rápido”, avalia Marco De Mitri, sócio da consultoria AM2.

Os preços também estão mais altos, balizados pelos reajustes consecutivos de novos. “Há pouca oferta de zero, com aumentos recorrentes. Fiat Mobi e Renault Kwid se revezam como os mais baratos do Brasil e custam próximo a R$ 50 mil. Se for para o mercado de seminovos, encontramos oportunidades, tanto de carros bons como de outros que estão saindo de linha e podem ter preços mais baixos, que é a oportunidade reversa, interessante para o consumidor, neste momento de escassez no mercado”, citando os Ford Ka e EcoSport, modelos que deixaram de ser produzidos.

Quando abertos, os lojistas até conseguem recuperar as finanças, mas ainda assim com desafios. “O cliente hoje tem noção de que o seminovo dele valorizou e, face a este aquecimento, ele tem outros canais de venda para particulares, sem grandes dificuldades. O lojista, por sua vez, tem pago valores superiores para captar o seminovo, em algumas situações, ele não consegue pagar o que o cliente pede, e este acaba vendendo o veículo para particular. Não está assim tão fácil para lojistas. Os concessionários também reduziram bastante a capacidade de colocar seminovo para dentro. E quando conseguem pagam um valor alto por isso”, detalhe Marcus De Bellis, sócio de De Mitri na AM2.

Nesse cenário, mesmo tendo a tabela Fipe como referência, torna-se um mercado de escambo. “Um carro que valia R$ 20 mil está agora R$ 30 mil. Só que o carro que aquela pessoa quer passou de R$ 40 mil para R$ 50 mil”, explica De Mitri.

De Bellis também aponta que este é um ano de incertezas, com juros que tendem a crescer, inflação que também pode aumentar e combustíveis bem mais caros. O comprometimento da receita e do salário das pessoas, assim, aumentam na posse do carro.

“É por isso que começa a surgir a cultura da mobilidade. A assinatura é uma saída para isso. Pode estar caro, mas é uma alternativa de ter um carro sem comprometer tanto a renda”, analisa Marcus De Mitri.

Também é cultural que as pessoas preferem comprar um carro usado, com todas suas particularidades, de forma presencial. Várias etapas podem ser online, mas em algum momento precisará da interação. É preciso avaliar o veículo, fazer vistoria, assinar o contrato, ir ao cartório.

“O fechamento das lojas no início da pandemia em 2020 previa o funcionamento do pós-venda e agora não, até as oficinas dependendo do lugar fecham. Uma loja ou concessionário tem seus custos fixos e suas fontes de renda são cortadas. Precisa se virar ou quebra, corta funcionários”, completa o sócio da AM2.







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