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Um relatório elaborado por técnicos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos do 8 de janeiro, ao qual o Metrópoles teve acesso, mostra que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu doação de recursos via Pix de 18.082 servidores federais já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A somatória de todos os valores recebidos por doação passa de R$ 18 milhões.
A análise usou como base de dados a quebra de sigilo bancário do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, que acabou atingindo Bolsonaro porque Cid constava como procurador das contas do ex-presidente.
Técnicos da comissão analisaram todas as transações via Pix de 20 de junho a 31 de julho e fizeram um raio-x das pessoas que doaram ao ex-presidente em duas contas diferentes. Segundo eles, o valor chega a R$ 18,1 milhões em 809,8 mil transações feitas por 770,2 mil pessoas.
O valor é oriundo da campanha de doação feita por aliados do ex-presidente no fim de junho deste ano, sob alegação de que Bolsonaro era vítima de um “assédio judicial” e que precisava angariar recursos para pagar multas. Ainda em julho, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado à comissão já havia mostrado que Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões via Pix neste ano, até 4 de julho.
Técnicos da CPMI que examinaram todas as transações via Pix apontaram que, já no governo do presidente Lula (PT), servidores públicos federais doaram valores significativos, que chegaram a 5,7% do total arrecadado. Observando apenas quantias acima de R$ 1 mil, 60 servidores realizaram doações que chegaram a R$ 272,6 mil.
Os servidores federais que mais fizeram doação para a “vaquinha” do ex-presidente são do Ministério da Saúde, com 1.589 doadores.
Já no âmbito estadual, o número chega a 60.258 servidores — a maior parte é do estado de São Paulo, governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro. Os servidores paulistas foram os que mais doaram: 3.689 servidores, a maioria policiais militares, com o valor estimado em R$ 78,3 mil.
Houve, ainda, 135 servidores de gabinetes de deputados federais que colaboraram com a “vaquinha” do ex-presidente. A campanha teve início no dia 23 de junho, uma sexta-feira, e o maior número de doações ocorreu no fim de semana, chegando ao montante de R$ 12,5 milhões.
Entre os doadores, estão algumas figuras conhecidas, como deputados federais e ex-ministros de Bolsonaro. O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, por exemplo, doou R$ 500, e o ex-ministro de Desenvolvimento Regional e atual senador, Rogério Marinho (PL-RN), doou R$ 1.022,22.
ex-comandante da Aeronáutica Antônio Carlos Moretti Bermudez doou R$ 200. Ele pediu demissão do cargo de comando em 2021, junto com os então comandantes do Exército, general Edson Pujol, e da Marinha, almirante Ilques Barbosa, depois que Bolsonaro demitiu o então ministro general Fernando Azevedo.
O ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-SP) doou um valor menor, R$ 22,17, em referência ao número do Partido Liberal, que é 22, e ao número que foi usado por Bolsonaro na campanha de 2018, o 17, do então Partido Social Liberal.
Houve doação também do senador Magno Malta (PL-ES), de R$ 222,22, e do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), de R$ 1.022.
O montante doado via Pix a Bolsonaro na vaquinha feita entre junho e julho tem tido repercussões até hoje. Na semana passada, a Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu que a Polícia Federal (PF) investigue o caso.
O relatório ainda apresenta um índice de estados mais atuantes — uma taxa que considera o valor arrecadado na unidade em relação a sua proporção populacional. Nesse recorte, lidera o estado de Goiás, que é seguido por Distrito Federal, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Rondônia.
Os técnicos ainda se debruçaram sobre uma análise das cidades em que estão os doadores. Da capital paulista, partiram R$ 1,1 milhão, de mais de 39 mil doadores. As contribuições da capital carioca somaram R$ 788 mil e Brasília, R$ 714 mil.
O relatório destaca que, entre os municípios que lideram o ranking, não houve concentração atípica, já que está proporcional à distribuição populacional. Ainda assim, o texto ressalta ser possível notar regiões de concentração específicas que nem sempre condizem com as regiões mais populosas.
Exemplo disso são as doações originadas de Brasília. Enquanto a região administrativa mais populosa é Ceilândia, o texto dá destaque para o grande volume de doações partindo do Plano Piloto, especialmente na Asa Sul, e na região acima da Asa Norte.
O Metrópoles entrou em contato com o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, para saber do interesse em falar a respeito do caso, mas não houve retorno. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.
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