A cidade de Irecê, grande parte do comércio está fechado -foto: praça do BB -reprodução
Estudo realizado em parceria por três universidades baianas e divulgado nesta terça-feira, 31, aponta que a quantidade de infectados pelo novo coronavírus na Bahia vai aumentar nos próximos dias, mas pode triplicar se a população abrir mão das medidas de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) informou que até às 17h desta terça-feira, 217 casos da Covid-19 foram confirmados no estado.
Segundo as projeções, com o isolamento, nos próximos dez dias, a Bahia terá 258 pessoas com a infecção, em 22 cidades. Sem o isolamento, o número de doentes salta para 786.
Os pesquisadores consideram como medida de isolamento principal a restrição do fluxo de pessoas entre os municípios.
O levantamento foi feito com base em um estudo matemático e usando dados das secretarias de saúde do estado e das cidades, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O nível de confiabilidade da pesquisa é de 95%.
Segundo o professor titular da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e coordenador do grupo técnico responsável pela pesquisa, Washington Rocha, restringir o fluxo de pessoas transitando de um município para outro é fundamental na luta contra a disseminação do novo coronavírus.
“Sem essa supressão de fluxo, a propagação do vírus será maior. A base de dados usada é a do IBGE, um trabalho publicado em 2016 que apresenta o fluxo entre os municípios da Bahia. Solicitamos dados mais atualizados do governo e estamos aguardando. Já os dados de contaminação são os divulgados nos boletins da Secretaria de Saúde”, disse.
Rocha é pesquisador em Geotecnologias do Programa de Pós-Graduação em Modelagem da Terra e do Ambiente da Uefs e está trabalhando em parceria com pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). São cerca de 30 profissionais voluntários das áreas de saúde, epidemiologia, computação, ciência de dados e geoprocessamento, entre outros.
Com base no estado, eles criaram uma ferramenta que apresenta as projeções de infectados para os próximos dez dias na Bahia e por municípios. O modelo matemático epidemiológico usado é do tipo SIR, e a estimativa de propagação dos casos é feita com base na rede de fluxo entre as cidades. A plataforma considera dois cenários. No primeiro, não há isolamento entre os municípios e a redução é de apenas 30% no trânsito de pessoas. No segundo, a redução é de 80% entre as cidades e de 50% no interior delas.
Salvador lidera o ranking nas duas situações. Caso o governo do estado mantenha a rodoviária fechada e as políticas de isolamento, e a prefeitura siga pelo mesmo caminho, a cidade deve registrar até 179 infectados nos próximos dez dias. Sem as ações de isolamento, serão 524 doentes. Nesse segundo modelo, Lauro de Freitas (56), Porto Seguro (50), e Feira de Santana (45) aparecem logo em seguida.
“O objetivo da ferramenta é informar a população, gestores e a comunidade acadêmica sobre a evolução de casos confirmados na Bahia e nas cidades baianas, com e sem isolamento social, para que eles possam entender a importância do isolamento e tomar decisões munidos de mais informações”, afirmou Rocha.
O serviço está disponível no site portalcovid19.uefs.br
Bairros
Outro estudo, esse realizado por pesquisadores da Ufba, aponta oito bairros em Salvador que estão mais suscetíveis à disseminação do novo coronavírus. Foram listados Tororó, Vila Canária, Santa Cruz, Pirajá, Nova Constituinte, Santa Luzia, Boa Vista de São Caetano e Sussuarana. A análise cruzou o fluxo das viagens por meio do transporte coletivo com os indicadores socioeconômicos de cada lugar.
O boletim divulgado nesta terça-feira, 31, pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) mostra que Salvador tem 44 bairros com casos confirmados. São Caetano é um deles. Na cidade, já são 127 doentes.
O CORREIO percorreu os bairros listados pela Ufba e encontrou parte do comércio aberto, mas as lojas com mais de 200 metros quadrados fechadas, como manda o decreto da prefeitura. O fluxo de pessoas nas ruas era intenso e havia aglomerações nas partidas de dominó, nas filas do banco e nas reuniões de vizinhos na porta das casas. Para a diarista Eliana de Souza, 38 anos, tudo isso é um perigo.
“A recomendação é evitar aglomeração porque o vírus se propaga muito facilmente, então, as pessoas deviam sair de casa para fazer apenas o necessário. No meu caso, que tenho dois idosos em casa, o cuidado é ainda maior”, disse.
Já o mecânico Nilton Bonfim, 46, discorda. “A gente precisa evitar sair muito de casa, mas também não é para tanto. Estão fazendo muito alarde”, disse.
fonte:Correio da Bahia c/adaptações 01/04/2020
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