SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, participou nesta sexta-feira (25) de um encontro conservador nos Estados Unidos que teve a presença do influenciador bolsonarista Allan dos Santos, que é considerado foragido pela polícia e está naquele país desde 2020.
Onyx fez sua entrada no 1º Congresso Conservador Brasileiro de Boston por meio de videoconferência, transmitida antes da fala de Allan, que estava presencialmente no encontro, no estado de Massachusetts.
O integrante do governo de Jair Bolsonaro (PL) fez um discurso por cerca de 40 minutos com elogios à atual gestão e críticas ao período dos governos do PT, partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal oponente do atual mandatário na tentativa de reeleição.
"Era um governo sem compromisso com o povo, que tinha um projeto de poder de base ideológica", afirmou Onyx, fazendo um retrospecto do que era o Brasil antes de Bolsonaro chegar ao poder e referindo-se à gestão anterior como ideológica.
"Quebrou valores e princípios muito caros para famílias brasileiras, atacou a liberdade de culto e o direito de ir e vir, quebrou o direito de propriedade, ou seja, a sociedade brasileira chegou muito perto do abismo", acrescentou.
O titular da pasta do Trabalho e Previdência é pré-candidato a governador do Rio Grande do Sul pelo PL, mesmo partido de Bolsonaro. Procurado via assessoria, ele não comentou o assunto. A participação do ministro no mesmo evento que Santos foi noticiada inicialmente pelo site Metrópoles.
O blogueiro, conhecido pelo site Terça Livre, teve a prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em outubro do ano passado. Ele é alvo de inquéritos que tramitam na corte sobre disseminação de fake news e ataques às instituições.
Santos se mudou para os EUA após entrar na mira das investigações. Moraes também pediu sua extradição e a inclusão de seu nome na difusão vermelha da Interpol, o canal de foragidos da polícia internacional --o que até o momento não ocorreu, como mostrou a Folha.
No último dia 14, o magistrado determinou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública que informasse a situação do processo de extradição. O bolsonarista vem driblando restrições impostas a ele, adotando como estratégia abrir perfis em diferentes plataformas e criar novas contas sempre que é bloqueado.
Santos apareceu no palco do evento na parte final da fala de Onyx, enquanto era feita uma prece. O influenciador ficou o tempo todo com a cabeça abaixada durante a oração conduzida por um pastor.
Durante sua participação, o ministro de Bolsonaro lembrou que, antes de ocupar a pasta do Trabalho, esteve na Casa Civil e no Ministério da Cidadania, e fez um autoelogio ao programa de acolhimento de refugiados da Venezuela, "um dos melhores do mundo", segundo ele.
O ministro afirmou ainda só não foi proposto o Prêmio Nobel da Paz por essa iniciativa porque o presidente do Brasil é de direta.
"Sempre lembro da experiência venezuelana, que chegou a um tal grau de deterioração que as pessoas há poucos anos atrás iam para os lixões e dividiam a comida com os cães. Depois, tiveram de comer os cães, e hoje literalmente não têm o que comer", disse.
Em mais de um momento, ele se referiu ao presidente como um escolhido por Deus para governar.
"Todos nós que somos cristãos e aceitamos Jesus em nosso coração sempre oramos para que as coisas fossem diferente no Brasil, e a resposta foi a escolha mais improvável", afirmou, descrevendo ser difícil conseguir políticos para caminhar ao lado de Bolsonaro por causa da corrupção do meio.
Onyx disse que facada sofrida por Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 quase interrompeu sua caminhada rumo ao Planalto, mas falou que, com a ajuda de Deus, foi possível salvar o presidente. "Deus levanta e Deus escolhe", disse, enquanto alguns na plateia gritavam "aleluia" e "glória a Deus".
O ministro listou medidas da gestão Bolsonaro e afirmou que ele realiza um "governo do bem", com medidas "disruptivas". Algumas pessoas que acompanhavam a participação no auditório reagiram gritando "amém".
"Tiramos o peso do Estado do cangote do brasileiro e da brasileira que tinham de trabalhar, garantimos ao produtor rural respeito à sua propriedade, garantimos o direito à legítima defesa das pessoas", afirmou Onyx, sem citar explicitamente a política de flexibilização de armas.
O ministro também usou o espaço para falar no que classificou como reação eficiente à pandemia de Covid-19, na contramão de todas as críticas sofridas pelo governo brasileiro no país e fora. "Em 2020, pudemos mostrar o lado fraterno do governo do presidente Jair Bolsonaro", afirmou.
Em seu discurso, Santos fez referência a censura, mas não citou Alexandre de Moraes, e disse que não vai se calar.
"Não vai ser tirano, não vai ser um governo, uma autoridade policial, do Estado, ou qualquer coisa do tipo que vai me calar de dizer para as pessoas [que tomem] cuidado. [...] Se você se dobrar agora, amanhã você estará prostrado diante desse senhor chamado censor. Não ceda", afirmou.
Em janeiro deste ano, outro ministro do governo Bolsonaro, Fábio Faria (Comunicações), participou de um evento nos Estados Unidos ao lado de Allan dos Santos e também atacou a esquerda, criticando uma possível volta de Lula à Presidência da República em 2023 --o petista lidera as pesquisas.
Faria disse depois, em nota, que não teria comparecido ao evento Governe Conference, na cidade de Orlando (Flórida), caso soubesse que o influenciador também iria participar.
Fonte: FOLHA S. PAULO -27/03/2022
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