quarta-feira, 9 de março de 2022

O Brasil na imprensa alemã(09/03)

                                     FOTO:REPRODUÇÃO

                                     
Na ONU, parecia que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro havia mudado de ideia. A luz no placar na sala da Assembleia Geral da ONU ficou verde, o país votou com os 141 estados a favor da resolução que condenava a invasão russa da Ucrânia. Será que o antigo amigo, que ainda assegurava a Vladimir Putin sua "solidariedade" quando Putin já havia colocado seus tanques na fronteira, finalmente se voltou contra o presidente russo?

A impressão é enganosa. O chefe de Estado brasileiro, que nos últimos anos não escondeu sua admiração pelo autocrata Putin, não está pensando em virar as costas para a Rússia agora. Bolsonaro está jogando um jogo complicado nesses dias. Por um lado, ele não quer que a reputação internacional do Brasil sofra mais danos do que já sofreu, por exemplo devido à desastrosa política sobre covid-19 no país e do crescente desmatamento na floresta amazônica.

Por outro lado, o Brasil não quer incomodar muito Moscou. Bolsonaro desautorizou seu vice após ele comparar Putin com Adolf Hitler por sua guerra contra a Ucrânia. O próprio Bolsonaro disse: "Nossa posição não é fixa". Ele criticou um jornalista que lhe perguntou sobre os "massacres" russos. A palavra era "exagerada", disse ele, o exército russo estava apenas atacando alvos militares – apesar de as autoridades ucranianas já estarem relatando a morte de muitos civis. Finalmente, Bolsonaro zombou do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Os ucranianos "colocaram seu destino nas mãos de um comediante", disse ele, aludindo à carreira anterior de Zelenski.

Esta não é a primeira gafe de Bolsonaro, o político de extrema direita já incitou contra os homossexuais e glorificou a antiga ditadura militar brasileira. A minimização dos crimes de Putin, no entanto, segue um cálculo estratégico. Bolsonaro teme pelas relações econômicas com a Rússia – e, em última instância, por seu poder. O que o gás natural é para a Alemanha, os fertilizantes são para o Brasil: eles são a mercadoria que torna o maior país da América do Sul dependente da Rússia. A produção agrícola é um pilar crucial da economia brasileira, e o Brasil recebe a maior parte do fertilizante artificial para suas fazendas da Rússia e de Belarus.

Há escassez de outros fornecedores. A China, por exemplo, um dos maiores exportadores, limitou muito suas exportações durante a pandemia. Se o fertilizante se tornasse ainda mais escasso, muitos brasileiros sentiriam o impacto, os alimentos se tornariam ainda mais caros, e a inflação já está em 10%. Bolsonaro quer ser reeleito em outubro, e nas pesquisas ele está atrás do ex-presidente de esquerda Lula da Silva.

Fonte:DW.COM 09/03/2022

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