quinta-feira, 10 de março de 2022

Sulacap aposta em atividades culturais para reviver tempos áureos


                                     
                                             foto:reprodução

      
Era domingo de carnaval e várias luzes começaram a se acender no Edifício Sulacap. Cores, projeções e artistas se colocando nas janelas da varanda para o evento que ficou batizado como Paredão Tropical, reunindo nomes como Brown, Gaby, Xanddy, Lia de Itamaracá e blocos afro naquele prédio que é símbolo do carnaval e também de Salvador. 

Cada luz que ali se acendia iluminava também alguma memória no espaço onde os famosos encontros de trios aconteciam e também vinha junta a chama de um prédio que nasceu para ser símbolo de uma era de modernidade para Salvador - símbolos de um gigante que tenta se reerguer.

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Obra remanescente de Art Decó, o Sulacap foi inaugurado em 1946, quando a cidade pensava em criar uma nova ambientação para o seu Centro Econômico, que girava entre a Praça Castro Alves e a Rua Chile. O historiador Rafael Dantas explica que Salvador ainda tinha um ar muito colonial e tentava fazer um projeto semelhante ao que o Rio de Janeiro viveu nos anos 1920, com uma série de reformas em sua estrutura física, novas construções e a busca pela chamada modernidade.

"Na década de 1940, o Sulacap é inaugurado, com Salvador buscando uma cidade moderna, na contramão de uma cidade antiga. Por isso é um prédio grande, um prédio de escritórios", explicou o historiador.

Após anos de auge nas três décadas seguintes, o início da decadência do prédio iniciou no primeiro governo de Antônio Carlos Magalhães, nos anos 1970. O futuro senador construiria as chamadas Avenidas de Vale como Bonocô, Vales de Nazaré, Canela e Barris, que direcionaram o crescimento da cidade para regiões do Iguatemi e Paralela - consolidado entre os anos 1990 e 2000, levando a pompa comercial para essas regiões.

Ações como o Paredão Tropical, patrocinado pela Devassa, tentam usar elementos como a cultura para revitalizar o prédio, que já virou alvo de brigas judiciais e ainda enfrenta problemas de estrutura.

Síndico do prédio desde abril do ano passado, Adson Improta afirma que o grande objetivo da gestão é mudar a ideia de que o prédio é abandonado. Desde que assumiu, aposta em ações como programações alinhadas com o período do ano, a construção de uma identidade de comunicação, eventos culturais e revitalização de espaços.

O Paredão Cultural foi uma espécie de cereja do bolo. Antes disso, o prédio ganhou uma nova cafeteria, no térreo, iniciou reestruturação de espaços físicos e há programação de abertura de mais um café bistrô e galeria de arte no Terraço do prédio, com vista para a Baía de Todos os Santos.

O prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) desde 2008. Segundo Improta, há um projeto de captação para continuar com os reparos e a gestão aguarda a oportunidade de se reunir com o Prefeito de Salvador, Bruno Reis, para conseguir apoio nas intervenções de recuperação.

Nesta sexta (11), o prédio recebe um desfile de moda promovido por um de seus condôminos, Ualisson Costa, dono da Ual Produções - empresa que trabalha com agenciamento de modelos oriundos da periferia. No 'Sulaverão', 10 modelos vão desfilar coleções da temporada feita por lojistas parceiros da agência.

"A partir daí, temos vários projetos. Desfiles de moda, teremos aqui apresentação de canto lírico, de Rapel, segurança e salvamento em relação a mostrar uma parte educativa, cultural, esportiva. Estamos com a possibilidade de trazer um evento gastronômico a nível nacional", explicou Improta.Mestrando em Cultura Material e Iconografia pela Ufba, Rafael Dantas avalia que obras noprédio por si só não são suficientes para uma revitalização do espaço: é preciso investir em todoo entorno."O Sulacap, sozinho, passando por tudo isso não vai suportar e alcançar vitórias. Épreciso que, com as galerias, cafés, projetos ligados à cultura, todo o entorno também seja pulsante. Assim como era quando o prédio foi inaugurado", explica Rafael. Adson Improta afirmaque o prédio segue tentando diálogo com a prefeitura e, enquanto isso, seguirá comas programações possíveis de se realizar. Ainda de acordo com o síndico, um novo projeto arquitetônico e de estrutura será divulgado na primeira quinzena de abril.

Fonte:Correio da Bahia - 10/03/2022

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