segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Crise na Ucrânia: Macron busca sinal de "desescalada" em encontro com Putin

 O encontro entre os presidentes Vladimir Putin e Emmanuel Macron às 16h do horário de Moscou (10h em Brasília) é o principal tema nas manchetes da imprensa francesa nesta segunda-feira (7). O jornal Le Monde recorda que, para baixar a tensão na fronteira da Ucrânia, Putin exige como garantia de segurança dos ocidentais o fim da expansão da aliança militar atlântica na direção das ex-repúblicas soviéticas, uma exigência que é rejeitada pelos Estados Unidos e pela Otan.  

© REUTERS - POOL New

De acordo com duas fontes próximas de Macron, escreve o Le Monde, um dos objetivos do líder francês é ganhar tempo e paralisar a escalada ao menos até abril, quando França, Hungria e Eslovênia terão eleições.

O diário Le Figaro afirma que Macron tentará obter de Putin "um sinal de desescalada". Concretamente, isto significa um acordo para baixar a tensão na linha de frente das repúblicas separatistas pró-Rússia do leste ucraniano – Donetsk e Lugansk, na região de Donbass – e a aplicação dos acordos de Minsk, assinados há sete anos por Ucrânia, Rússia, França e Alemanha.

Russos e ucranianos concordaram na época em adotar um cessar-fogo nessa região rica em carvão e siderurgia, e promover uma reforma constitucional para dar mais autonomia econômica e cultural a essas províncias. Paralelamente, Moscou, Kiev, Paris e Berlim prosseguiriam negociações diplomáticas aprofundadas para pôr fim ao conflito na Ucrânia. De acordo com o Le Figaro, em nome dos europeus, Macron gostaria de convencer Putin a diminuir a pressão nas fronteiras da Ucrânia, reduzindo o contingente militar em Belarus e no Mar Negro, por exemplo.

Amanhã (8), o chefe de Estado francês, atualmente na presidência rotativa da União Europeia, terá um encontro com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Kiev, para avaliarem juntos as propostas do Kremlin. Depois de Kiev, Macron vai a Berlim discutir os resultados da mediação com o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente polonês, Andrzej Duda. A Polônia continua extremamente sensível à ameaça russa, destaca o jornal conservador.

Propostas dos EUA abrem caminho de negociação

O jornal Libération publica uma entrevista com o cientista político americano Rajan Menon sobre a mediação francesa. Pesquisador do Instituto Prioridades de Defesa (Defense Priorities) da Universidade de Columbia, Menon considera que "quanto mais houver atividade diplomática, menores serão as chances de uma guerra na Ucrânia". 

O analista político diz que as propostas escritas enviadas por Washington ao Kremlin, reveladas na quarta-feira passada (2) pelo jornal espanhol El País, constituem uma base construtiva de negociações com a Rússia. Putin nunca conseguirá que Washington e a Otan assinem um documento se comprometendo a não receber a Ucrânia na organização, mas os americanos abriram o caminho para um novo acordo estratégico de redução de armas nucleares na Europa. "Eles sugeriram que os russos poderiam inspecionar as instalações de defesa antimísseis da Otan na Polônia e na Romênia, desde que os russos concordem que a inspeção de dois de seus locais", explica o especialista em defesa.

O diário Le Parisien diz que o sucesso da mediação diplomática de Macron seria conseguir reunir em Paris, no futuro próximo, os líderes de Berlim, Kiev e Moscou, para dar continuidade ao diálogo. Assim, o presidente francês poderia afirmar sua liderança na União Europeia enquanto o alemão Olaf Scholz ainda busca suas marcas. E mesmo não tendo oficializado sua candidatura à reeleição, Macron ganharia pontos ante os adversários no debate sobre política externa. 

Fonte: RFI -07/02/2022

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