quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Líderes evangélicos criticam José Wellington da Assembleia de Deus por intermediar repasse de emendas





BRASÍLIA – A declaração do pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder da Assembleia de Deus no Brasil, sobre suas intervenções em repasse de emendas a parlamentares, causou desconforto entre líderes evangélicos e críticas ao comportamento do religioso.

Conforme Estadão/Broadcast revelou, José Wellington admitiu que a igreja tem feito a intermediação de emendas parlamentares para eleger três de seus filhos em São Paulo, maior colégio eleitoral do País. “A emenda só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus”, afirmou o pastor durante reunião de obreiros, na segunda-feira, 7, em São Paulo. Os filhos do pastor – o deputado federal Paulo Freire Costa (PL-SP), a deputada estadual Marta Costa (PSD-SP) e a vereadora Rute Costa (PSDB-SP) – tiveram acesso a R$ 25 milhões em recursos públicos, no ano passado. “Você quer dinheiro? Quer, mas chame então o pastor da Assembleia de Deus”, declarou José Wellington no culto.

Para o reverendo Valdinei Ferreira, líder da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, a declaração expõe uma distorção na relação entre igrejas e políticos. “É mais um sinal de apodrecimento das relações entre religião e política. As igrejas devem cobrar políticas públicas e podem ser parceiras do poder público na execução de determinadas ações, mas não entrar na lógica de um despachante”, afirmou.

Nas redes sociais, o pastor da Igreja da Cidade, de São José dos Campos (SP), Carlito Paes, criticou a atuação do patriarca da Assembleia de Deus. “Onde isto vai parar? Volta Jesus!”, disse Paes, que declarou voto ao presidente Jair Bolsonaro em 2018, mas hoje é crítico do chefe do Executivo. “Pastores e igrejas, acordem, ainda temos tempo de ajustar o foco para o real Evangelho e para igreja, temos tantas oportunidades!”, escreveu.

A participação de um pastor na escolha do destino das emendas parlamentares não é apontada como um crime, conforme procuradores ouvidos pela reportagem. O caso do pastor, porém, pode ter consequências graves se uma investigação constatar desvio de recurso público. Nesse caso, a apuração cabe à Procuradoria-Geral da República (PGR), com eventual julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O líder da bancada evangélica no Congresso, Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), defendeu a prerrogativa dos parlamentares evangélicos de atender suas bases. “Os líderes de sindicatos podem intermediar e fazer indicações, presidentes de associações e universidades podem intermediar e fazer indicações aos parlamentares e os pastores, não? Você não acha que isso é preconceito?”, afirmou.

Cavalcante, porém, pontuou uma diferença em relação à sua atuação como deputado ligado à Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada pelo pastor Silas Malafaia. “No meu caso, em particular, meu pastor nunca me indicou um único município ou instituição para que fosse enviado um real de emenda, mas isso é uma decisão do parlamentar, de seus líderes e suas bases.”

Fonte:ESTADÃO - 10/02/2022

0 comentários:

Postar um comentário