foto:TCE-SP/Divulgação
O advogado Amauri Feres Saad, apontado pela CPMI como autor intelectual da minuta golpista supostamente entregue a Jair Bolsonaro, escreveu um livro em que defende o direito de o presidente remover ministros do STF de forma sumária.
O livro de Saad, publicado em 2021, nega o entendimento jurídico vigente para endossar o artigo 142 da Constituição, invocado por golpistas para justificar pedidos de intervenção militar.
Em junho de 2020, o então presidente do STF, Luiz Fux, concedeu uma liminar dizendo que as Forças Armadas não têm poder moderador para intervir em eventuais conflitos entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Para Saad, no entanto, a decisão de Fux é “juridicamente inexistente” porque “invade um território não sujeito à jurisdição da Corte”. “O STF não é soberano”, afirma.
Em outra citação, Saad justifica intervenções golpistas por parte de um presidente que deseja invocar as Forças Armadas com base no artigo 142, mas que encontra resistências no STF e no Legislativo. Diz o advogado: “A medida considerada adequada pelo Presidente da República poderá ser a remoção de um ou mais ministros do STF, desde que o órgão continue funcionando”.
Quanto ao devido processo legal, Saad declara que “a exceção é um momento de imprevisão constitucional, onde as soluções normais para situações normais não se aplicam — porque não se trata de uma situação normal”. Ele defende que “haverá direito ao devido processo legal se o Presidente, no seu decreto, assim o estabelecer, e a perda de cargo será sumária, se ele assim o decidir”.
“Por isso, condutas de um Poder que abertamente contrariam a Constituição e o Estado de Direito abrem portas para o imponderável: e, no momento em que o imponderável se instala, aquele que contribuiu para erodir a ordem constitucional não pode pretender exigir a sua proteção”, escreveu Saad.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, contou em delação premiada que o ex-assessor Filipe Martins levou a Bolsonaro uma minuta golpista que previa a prisão do ministro do STF Alexandre de Moraes e a convocação de novas eleições. Saad foi descrito no relatório da CPMI do 8 de Janeiro como o mentor intelectual do documento.
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