quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Malafaia, um “pastor em missão por Jair Bolsonaro” diz jornal francês Le Monde


Perfil do pastor ocupa página inteira no jornal Le Monde © Reprodução Le Monde

PERFIL DO PASTOR OCUPA PÁGINA INTEIRA NO JORNAL LE MONDE © REPRODUÇÃO LE MONDE 

 Intitulado “Silas Malafaia, o pastor brasileiro em missão por Bolsonaro”, o texto o apresenta como “um dos líderes evangélicos mais célebres do Brasil”. Segundo o correspondente, mesmo se Malafaia não é o mais poderoso do país – já que seu ministério possui apenas 35 mil membros – ele é, de longe, o mais midiático.

O pastor dispõe de 2,4 milhões de amigos no Facebook, 1,4 milhão de seguidores no Twitter e produz vídeos que são visualizados centenas de milhares de vezes no Youtube, “mais do que qualquer outro líder evangélico no país”, detalha o texto, explicando que sua influência ajudou na eleição do atual chefe de Estado.

De acordo com o correspondente, o pastor foi “um apoio precioso nesse país de 210 milhões de habitantes, onde as igrejas neopentecostais estão em pleno crescimento e que conta com mais de 60 milhões de evangélicos”.

O jornalista conta o percurso de Malafaia, filho de um militar de origem grega e de uma diretora de escola, ambos evangélicos e que, rapidamente, se tornou pastor. O sucesso veio logo, e só aumentou após a criação de sua própria igreja, na qual “os pedidos de doações são fortemente sugeridos, e dezenas de funcionárias, vestidas de preto ou de cinza, circulam pelos corredores segurando envelopes e máquinas de cartão de crédito” para recolher o oferendas, detalha o texto.

“Em 2013, a revista Forbes classificou Silas Malafaia como o terceiro pastor mais rico do país”, lembra o jornalista. Uma riqueza que destoa da figura do líder religioso que, “como sua calvície, suas camisetas largas demais, seus tênis e paletós que não combinam, mais parece um amigo de boteco”, ironiza o correspondente.

Mas o que interessa o jornalista do Le Monde é a relação do líder religioso com o atual presidente Jair Bolsonaro. “De todos os pastores do país, Malafaia é o mais próximo do chefe de Estado”, avalia o texto. “Líder religioso ultraconservador, tão controverso quanto midiático, conselheiro e guia espiritual, ele foi um dos grandes atores da vitória do candidato de extrema direita”, resume o correspondente, que continua dizendo que “Bolsonaro e Malafaia são parecidos”.

 

Bolsonaro telefona para Malafaia até durante viagens no exterior

 

Durante a entrevista concedida ao jornal francês, o pastor confirma essa amizade, lembrando que desde os anos 2000 ambos lutam contra o aborto e o casamento gay. “Até hoje nós nos falamos todas as semanas via WhatsApp. Conversamos sobre tudo, de problemas matrimoniais à política. Até durante suas viagens de Estado no exterior, ele me telefona”, confessa Malafaia.

Mas será que o pastor, que vê a homossexualidade como “um primeiro passo para a pedofilia” e defende o aborto alegando que “a vida é a mãe de todos os direitos, inclusive em caso de estupro”, pode contar realmente como a ajuda do “amigo” Bolsonaro em sua cruzada conservadora?, questiona o texto.

O vespertino francês ressalta que, desde sua chega ao poder, o presidente não para de decepcionar os pastores: a embaixada do Brasil em Israel até hoje não foi transferido de Tel Aviv para Jerusalém, nenhuma personalidade “extremamente evangélica” foi nomeada para ao Suprema Corte brasileira e o chefe de Estado até votou contra um projeto de lei que previa perdoar as dívidas das igrejas, enumera o texto, lembrando temas que poderiam representar provas de uma aliança indestrutível entre Bolsonaro e Malafaia.

Mas o pastor diz que “não há nenhuma ruptura, nenhuma decepção e que está tudo bem”, escreve Le Monde. “Diante da imprensa, o pastor da Penha critica algumas decisões, mas nunca ataca diretamente o presidente”, aponta o jornal. “Bolsonaro é muito inteligente. Ele mantém o contato próximo com a comunidade evangélica e seus líderes religiosos. Até agora ele não tomou nenhuma decisão contra nós”, afirma Malafaia, que reitera seu apoio ao presidente.

Segundo Magali Cunha, jornalista e pesquisadora entrevistada pelo Le Monde, mesmo se os grandes pastores formam um grupo estratégico, eles não conseguem controlar tudo no Brasil. “E Bolsonaro entendeu rapidamente que para se manter no poder precisaria do apoio dos militares e dos políticos tradicionais do congresso, que frequentemente se opõem aos evangélicos”, resume a pesquisadora nas páginas do vespertino francês.


FONTE: CARTA CAPITAL - 15/10/2020

0 comentários:

Postar um comentário