Colocado em teste nas eleições deste domingo (15), o capital político do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sofreu um abalo com o resultado das urnas. Além de nenhum de seus apoiados ou aqueles que buscaram se associar a ele ter conseguido vencer em cidades importantes, o presidente assistiu a alguns reveses simbólicos.
Seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos), candidato à reeleição para vereador no Rio de Janeiro, foi reeleito, mas encolheu cerca de 35 mil votos em relação a 2016, quando foi o campeão na capital do estado. Ele ficou em segundo, com cerca 71 mil votos, perdendo o posto para o oposicionista Tarcisio Motta (PSOL), que teve cerca de 86 mil votos.
Wal do Açai, funcionária fantasma de seu gabinete da Câmara dos Deputados, conforme revelado em reportagens da Folha de S.Paulo, recebeu o apoio em peso da família Bolsonaro, incluindo o do próprio presidente, mas não conseguiu se eleger vereadora em Angra dos Reis (RJ). Teve apenas 266 votos.
A aposta mais importante do presidente era Celso Russomanno (Republicanos-SP), que passou boa parte da campanha liderando a disputa à Prefeitura de São Paulo, mas acabou ficando em quarto.
Bruno Engler (PRTB) até conseguiu subir na reta final, em Belo Horizonte, mas não conseguiu evitar a reeleição de Alexandre Kalil (PSD).
No Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) enfrentará um difícil segundo turno contra o favoritismo de Eduardo Paes (DEM).
Bolsonaro chegou a apagar neste domingo um post com apoia a candidatos. À noite, divulgou mensagem minimizando os apoios dados e afirmou que a esquerda sofreu uma "histórica derrota", o que indicaria, em sua visão, que a onda conservadora de 2018 chegou para ficar. "Para 2022, a certeza de que, nas urnas, consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado", afirmou.
Bolsonaro declarou adesão abertamente a 59 candidatos. Foram 14 a prefeito, 1 a senador (Mato Grosso terá eleição suplementar) e 44 a vereador. A maioria deles obteve o apoio durante o que o presidente batizou de "lives eleitorais gratuitas".
Além desses, vários outros candidatos pelo país tentaram associar o seu nome ao do presidente, mas a maioria dos bolsonaristas acabou embolada nas últimas posições.Rogéria Bolsonaro (Republicanos), mãe dos três filhos mais velhos do presidente, se candidatou a vereadora no Rio e teve pouco mais de 2.034 votos, uma votação baixa, e não se elegeu.
Uma das exceções dentro do fracasso dos simpáticos ao presidente era Belém, onde o Delegado Eguchi (Patriota) foi para o segundo turno contra Edmilson Rodrigues (PSOL).
Entre os apoiados por Bolsonaro que tiveram mais sorte neste domingo estava o ex-governador cassado Mão Santa (DEM), que deveria conseguir se eleger prefeito em Parnaíba, no Piauí.
Entre os apoiados por Bolsonaro que foram para o segundo turno, Capitão Wagner (PROS) também deve enfrentar uma dura disputa em Fortaleza contra Sarto (PDT), candidato da família Gomes.
No Recife, o apoio de Bolsonaro não conseguiu alavancar a candidatura da delegada Patrícia Domingos (Podemos), que não foi ao 2º turno.
Bolsonaro foi o principal beneficiado com a onda conservadora e antipolítica que marcou as eleições de 2018.
Além de ter sido eleito mesmo tendo promovido uma campanha caótica, sem quase nenhum amparo partidário e contrariando praticamente todas as previsões do mundo político, ele viu triunfar nas urnas uma legião de políticos que buscaram se associar ao seu nome.
Entre eles estavam os governadores eleitos dos três principais estados do país —João Doria (PSDB-SP), Wilson Witzel (PSC-RJ) e Romeu Zema (Novo-MG).Os dois primeiros acabaram rompendo e virando adversários de Bolsonaro. Doria é visto como um dos principais nomes que devem concorrer contra o presidente nas eleições de 2022.O abalo no status quo político há dois anos animou candidatos do entorno bolsonarista que mantêm o foco no discurso antipolítica a tentar a sorte.Após um início em que titubeou em entrar na campanha de aliados, Bolsonaro acabou anunciando apoios a determinados candidatos, entre eles Russomanno e Crivella.As pesquisas do Datafolha e Ibope mostraram em todo o percurso da campanha, porém, que nomes apoiados pelo presidente nas principais disputas ou que, mesmo sem a menção direta, procuraram se associar à imagem de Bolsonaro, não figuraram em boa posição na maioria dos casos.
Conforme a Folha de S.Paulo mostrou no final de outubro, em apenas 3 das 26 capitais candidatos a prefeito alinhados ao presidente apareciam à frente nas pesquisas. A maioria estava embolada com outros candidatos nas últimas colocações.
Outros expoentes da onda conservadora de 2018 também sofreram derrotas acachapantes neste domingo.
Uma dos principais fiascos está na conta do governador de Minas Gerais. O candidato de Zema, Rodrigo Paiva (Novo), ficou com menos de 5% dos votos válidos em Belo Horizonte, a capital do estado, que reelegeu com folga o prefeito Alexandre Kalil (PSD).
Alguns vitoriosos de 2018 nem tiveram como influenciar o atual pleito por terem sido abatidos politicamente no meio do caminho. Esse foi o caso de Witzel e do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), que estão afastados dos cargos.
fonte: FOLHAPRESS - 16/11/2020 11h. c/adaptações
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