A Polícia Federal investiga um sócio oculto e financiadores do site conservador Terça Livre, fundado por Allan dos Santos, aliado do presidente da República. O blogueiro bolsonarista está na mira de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) — que apuram uma rede de propagação de notícias falsas e atos antidemocráticos contra a Corte e o Congresso.
Ao longo das apurações, a PF descobriu que Allan dos Santos tem como parceiro de negócios o empresário Bruno Ayres, sócio de uma companhia sediada em Delaware, nos Estados Unidos, e dono de uma empresa de tecnologia em Brasília que tem contratos com empresas públicas. Ao ser questionado pelos investigadores sobre a sua ligação com o canal Terça Livre, Bruno respondeu em seu depoimento que é “sócio oculto” por meio de um contrato de sociedade em conta em participação, atuando como consultor em questões estratégicas.
Allan e Bruno se conheceram em 2014 durante um evento em Brasília. Três anos depois, os dois se tornaram parceiros de um projeto que previa a criação de uma espécie de “Netflix de cursos em diversas áreas”. Desde então, a relação comercial entre os sócios se estreitou cada vez mais. Em mensagens analisadas pela PF, Bruno chegou a pedir ajuda de Allan para se aproximar de Luciano Hang, dono da Havan. Ele também alertou um funcionário do site a não deixar exposto um veículo luxuoso estacionado na garagem do fundador do Terça Livre. “Não queria expor um carro caro”, justificou o empresário para a PF.
Procurado, Bruno afirmou que optou pela modalidade de “sócio oculto”, prevista na legislação, porque é o formato que “mais se adequada” à sua participação no negócio. “Não estou oculto no negócio”, afirma ele, reforçando que atua no Terça Livre na “condição de sócio participante”. “Sou empresário há 20 anos e presto serviços majoritariamente para o setor privado. Os poucos contratos públicos que tenho foram iniciados antes do início do atual governo”, completa.
Financiadores de Allan dos Santos também entraram na mira da PF e foram intimados a prestar depoimentos. Uma analista de sistemas do BNDES, por exemplo, teve de explicar o motivo pelo qual destinou 90 000 reais ao Terça Livre. Ao ser interrogada, a funcionária pública explicou que os recursos foram doados de forma espontânea e retirados do seu salário líquido de 38 000 reais. Já um técnico de informática do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro esclareceu aos investigadores que contribuiu com o site conservador, depositando 53 000 reais ao longo de dois anos, porque gostou dos cursos on-line do blogueiro bolsonarista.
Após as investigações avançarem, Allan dos Santos se mudou para os Estados Unidos. Em seu depoimento, o blogueiro negou que tenha atuado para convocar manifestações ou divulgado vídeos contra as instituições. Ele disse que é alvo de uma “campanha de difamação” feita por alguns veículos de imprensa. A PF desconfia dessa versão, porque peritos encontraram uma mensagem de celular em que o fundador do Terça Livre sugere uma intervenção militar a um ajudante de ordens do presidente Bolsonaro. A apuração dos fatos segue em andamento. Ainda não há uma data para a conclusão dos inquéritos.
Na sexta-feira, 20, uma entrevista de Allan dos Santos para o canal de TV a cabo One America News Network, falando sobre supostas fraudes na eleição norte-americana, foi compartilhada no Twiitter pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A publicação, no entanto, foi classificada com um alerta de desinformação, já que a acusação de irregularidade feita pelo blogueiro brasileiro é contestada.
fonte: VEJA.COM - 23/11/2020
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