© Agência Brasik Alexandre Ramagem foi nomeado como diretor-geral da Polícia Federal nesta terça(28)
Procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná suspeitavam que o atual diretor-geral da PF, Alexandre Ramagem, estaria buscando “melar” a operação em 2015, quando era delegado da Polícia Federal. Também se preocupavam com a amizade que ele mantinha com 1 procurador preso e denunciado pela venda de informações de investigação ao grupo JBS.
A informação foi divulgada nesta 3ª feira (28.abr.2020) em reportagem produzida pelo The Intercept Brasil, que teve acesso a mensagens atribuídas ao coordenador da Lava Jato no Paraná, o procurador da República Deltan Dallagnol, trocadas com outros procuradores pelo Telegram, em julho de 2015 e em maio de 2017.
De acordo com as mensagens divulgadas na reportagem, Deltan Dallagnol teria dividido uma preocupação com os colegas do MPF sobre 1 delegado oculto até aquele momento. A conversa está em ipsis litteris como divulgada pelo The Intercept:
- 21 de julho de 2015: “Grupo PF – MPF Lava Jato 2”
Deltan Dallagnol – 00:52:00: Info de inteligência: Fanton tem grande amigo, carioca, na direção geral, o qual é mto ligado ao PT, e esperaria favor político futuro em troca de infos para melar o caso, segundo algumas fontes dizem.
Luciano Flores – 07:35:00: Hummm valeu, Deltan! Vamos ver se procede essa história do Fanton…
Marcio Anselmo – 09:22:41: [Mensagem não encontrada]
Anselmo – 09:22:45: Hein?
Carlos Fernando dos Santos Lima – 10:57:24: Se tiverem o nome desse suposto delegado carioca, me avisem para eu poder passar para o pessoal nosso que está acompanhando as investigações.
Igor Romário de Paula – 11:01:22: Pode deixar… Estou o do hoje para Brasília e vou tentar descobrir
O nome “Fanton”, mencionado na conversa, se refere ao delegado Mario Fanton, que foi acusado pelo MPF-PR (Ministério Público do Paraná) por manipulação de provas e que acabou denunciado por violação de sigilo funcional.
No mesmo dia da conversa, horas depois Dallagnol retornou ao grupo com a identificação do suspeito: Alexandre Ramagem.
- 21 de julho de 2015 – “Grupo PF – MPF Lava Jato 2”
Deltan Dallagnol – 14:03:10: Nome do DPF é Alexandre Ramagem Rodrigues. Está na DG
Dallagnol – 14:03:29: Seria ele quem estaria mediando com PT pro Fanton
Erika Marena – 14:04:28: Obrigada Paulo !
Igor Romário de Paula – 14:05:04: Boa… sei quem é… Vou tentar levantar mais coisas lá amanhã
Marcio Anselmo – 14:08:28: Eu conheco esse nome
No mesmo dia, Dallagnol repassou a informação a Januário Paludo, 1 dos veteranos da força-tarefa no Paraná.
Segundo o The Intercept, Paludo é quem criou o grupo de conversa no Telegram com o nome de “Filhos do Januário”. Este grupo está entre os mais usados pela força-tarefa. Em dezembro de 2019, Paludo passou a ser investigado pelo MPF por suposto recebimento de propina do doleiro Dario Messer em troca de proteção.
“O nome do Delegado de Brasília, que seria ligado aos políticos eh : Alexandre ramagem rodrigues”, escreveu Dallagnol a Paludo no dia 21 de julho. Paludo chegou a responder no dia seguinte, afirmando que acionaria seus pares em Brasília. Mas o assunto não foi adiante, segundo o Intercept.
O nome do então delegado da PF retornou às suspeitas da Lava Jato em maio de 2017, durante o governo do presidente Michel Temer.
Em 18 de maio de 2017, o procurador Ângelo Goulart Villela foi preso por suspeita de ter vendido informações sigilosas de investigação a Joesley Batista, dono da JBS. Ele foi solto em agosto do mesmo ano para cumprir medidas cautelares.
No dia anterior, tinha vindo à tona a informação de que Joesley havia gravado Temer, no Palácio do Jaburu, dando 1 dúbio aval ao empresário para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ).
Três dias depois da prisão de Ângelo Goulart Villela, Dallagnol entrou em contato com o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, então coordenador da operação Greenfield, que mirava fundos de pensão. Era a operação em que Villela atuava na época. Dallagnol repassou a Lopes uma mensagem recebida de 1 denunciante que ficou anônimo:
- 21 de maio de 2017 – Chat privado
Deltan Dallagnol – 17:46:48: Repasso: “Caro amigo, vou recorrer a vc (…). Mas o ngelo Goulart tinha ligações com um tal DPF Ramagem, que passou por RR Tb, será que ele está em alguma FT? Se estiver, deve ser afastado sumariamente, pq é grande o risco de estar envolvido tb.”
Anselmo Henrique Cordeiro Lopes – 19:28:49: holding era alvo de 3 Operações de nossa FT e outras 3 de outros colegas. Estavam acuados. De toda forma, o critério utilizado pela PGR foi o da qualidade das provas que eles produziram.
Lopes – 19:29:18: Já ouvi isso, mas o Ramagem não está nas nossas operações
As mensagens não mostram se Dallagnol sabia que Villela e Ramagem de fato haviam trabalhado juntos em Roraima de 2008 a 2011, segundo o The Intercept. Cada 1 por seu órgão, haviam atuado na investigação das contas de candidatos ao governo do Estado, em 2010.
O site informa que ouviu duas fontes, que pediram anonimato, que afirmam que a relação dos 2 era íntima: o procurador teria dividido casa com Ramagem em Boa Vista e convidado-o para o casamento dele, em 2013, uma festa de luxo no Copacabana Palace, no Rio.
O The Intercept informa que Ramagem não trabalhava na operação Greenfield. Naquele mesmo ano, contudo, o delegado atuou na equipe da Lava Jato junto ao TRE-2 (Tribunal Regional Eleitoral da 2ª Região), no Rio, e comandou a operação Cadeia Velha, uma movimentação da Polícia Federal que prendeu empresários do transporte público sobretudo no Rio de Janeiro.
Foram cumpridas conduções coercitivas de Jorge Picciani, então presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), e de Paulo Melo, deputado estadual e ex-presidente da Alerj, além de 6 prisões preventivas e 4 temporárias e de 21 ações de busca e apreensão.
Ramagem permaneceu na Lava Jato até 2018, quando assumiu 1 trabalho administrativo na Polícia Federal. Após a facada que Bolsonaro, em setembro de 2018, que o delegado assumiu a coordenação da segurança da campanha do então candidato que veio a se tornar presidente da República.
O The Intercept Brasil pediu nota à força-tarefa da Lava Jato do Paraná sobre as conversas, no entanto, a assessoria do MPF-PR disse que “o site prejudicou o direito de resposta ao não disponibilizar o material para análise da força-tarefa”.
“A força-tarefa Lava Jato em Curitiba não reconhece as mensagens que lhe têm sido atribuídas”, diz a nota. “O material é oriundo de crime cibernético e sujeito a distorções, manipulações e descontextualizações”.
Segundo o site, as afirmações da nota “são incorretas”. “O contexto das conversas foi informado aos procuradores, como de hábito. O Intercept não distorce, manipula ou descontextualiza as conversas”, disse.
Alexandre Ramagem foi procurado, mas não se manifestou.
fonte:Poder360 - 28/04/2020
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