O consagrado tenor lírico Jean William, um homem negro de 36 anos, fazia a travessia da balsa entre Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo, nesta quinta-feira (27), quando foi abordado por policias militares, sem qualquer justificativa ou esclarecimento.
O cantor estava sentado no banco do motorista no seu Jeep, um carro considerado de alto padrão, quando um dos policiais apontou a arma e mandou que ele descesse do carro com as mãos erguidas.
De acordo com relato do próprio cantor, o policial perguntou, aos gritos, se o carro era dele, se ele já tinha passagem pela polícia e se levava drogas no carro.
“Que risco eu estava representando de dentro do meu carro, parado numa balsa, olhando pro mar, para que ele apontasse a arma daquela forma? Eu não entendo”, afirma o cantor de música clássica.
Constrangimento
Jean disse ainda que “além do medo, tem o constrangimento. Tinham vários carros na bolsa, tinha gente filmando. Nos primeiros minutos eu fui tratado como um bandido”.
“Não estou questionando o trabalho da polícia, mas a abordagem que eu sofri e o histórico [de outros casos semelhantes]. É uma humilhação. O fato de você ser quem você é não é suficiente para ter um carro daquele padrão, por causa da cor da sua pele”, desabafou.
Nome trocado
Jean William foi notícia em 2018, durante as comemorações dos 30 anos da Constituição. Na época, o cerimonial do Congresso, que organizou o evento, teria censurado o nome do tenor Jean William, que cantou o Hino Nacional, para não desagradar o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PL).
Segundo Mônica Bergamo, o cantor foi apresentado como Jean Silva – seu último sobrenome – após os organizadores cogitarem que o nome artístico do tenor lembraria o do deputado reeleito Jean Wyllys (Psol/RJ), desafeto declarado de Bolsonaro.
Família humilde
Jean William é um dos grandes destaques do canto lírico brasileiro. Nascido em uma família humilde, foi criado pelos avós em Barreirinhas, interior de São Paulo. Sua avó fazia limpeza em hospitais e seu avô, lavrador, era também músico, multi-instrumentista.
Graças a uma bolsa de estudo, se transformou em cantor lírico. Ele já fez vários concertos, gravou álbuns e chegou a cantar para o Papa Francisco, em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, para um público estimado em mais de um milhão de peregrinos. Veja abaixo um vídeo de Jean cantando a Ária ”Nessun Dorma”, da ópera Turandot, de Giacomo Puccini:
Com informações da coluna de Mônica Bergamo
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